Íris | Iris (2016)

(pt)

 O objectivo desta criação não é a elaboração de um filme em tempo real ou de uma coreografia para vídeo. Trata-se sim de construir um estudo entre ambas as artes, onde o próprio processo faz parte do produto final e onde o cineasta e coreógrafo são simultaneamente o inverso, ao mesmo tempo que são intérpretes um do outro.

 Neste processo desenvolvemos a interação entre o corpo-performer e o corpo-câmara numa espécie de dueto/trio onde exploramos o potencial do mecanismo cinematográfico enquanto perspectiva (observador ficcional) que induz uma percepção geográfica de um acontecimento, bem como uma aproximação do observador à cena.

No entanto, nem sempre as imagens que captamos na câmara são o mais importante, mas sim, a forma como os corpos reagem em prol desse registo, ou ainda o potencial de ilusão e destruição que desenvolvemos aquando da sua projecção. Nessa altura, o corpo em cena torna-se numa espécie de ruído para as imagens emitidas assumindo-se como um invasor do dispositivo de projecção, interferindo com a noção de escala e com o próprio espectro de luz. O ambiente sonoro, caracterizado pelos sons concretos do equipamento e dos corpos em acção, acaba por ser submetida ao mesmo processamento, entrando ou em conflito com a cena ou sustentando-a.

Partindo de exercícios formais registados e documentados, vamos aprimorando e maturando experiências e conceitos, alcançando um ponto aliciante de cruzamento disciplinar que seja identificativo do interesse artístico de cada um de nós.

Íris questiona de forma subtil as relações interpessoais, a tecnologia de comunicação, e ainda, a construção de uma autoconsciência digital e a barreira entre o fictício e o real.